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sábado, 1 de setembro de 2012

Fragilidade:"a construção do desabar"

Estava aqui a pensar comigo sobre uma conversa que tive recentemente sobre o futuro, a minha vida e outras coisas que poderiam se tornar planos, e como cada um de nós possui uma visão diversa sobre tudo isso. Mesmo quando a gente acredita que existe um norte, um firmamento, uma certeza em relação às nossas escolhas, desejos, planejamentos, uma simples conversa mais sincera, mais profunda, sem máscaras, pode colocar tudo a perder. Melhor, pode te fazer repensar tudo isso. Tudo o que foi construído pode desabar. O meu interlocutor me disse:" planejamos e, de repente, o planejado não acontece e pode dar tudo errado, aí vem a frustração"... De fato, faz tempo que tenho pensado em tentar, sempre tentar para justamente não ter a desculpa do medo da frustração e ficar ainda mais frustrada porque poderia ter dado certo. O medo da frustração é uma grande covardia, não gosto desse medo de colocar o pé na água fria. Afinal de contas, se você chegou até tão perto do rio, entre, ora pois. Esse meu interlocutor, agora mudando tudo para metáforas, estava a falar sobre a "construção do desabar", ou seja, vamos planejando e construindo sem garantias, e se der errado, pode desabar. Uma colega de universidade, hoje artista famosa, Tatiana Blass, deu este título ao seu trabalho de conclusão de curso. Parece paradoxal, entretanto, faz sentido ao se pensar nas idéias deste meu interlocutor. Como disse o cantor Crioulo na reunião após o fechamento do Sarau do Binho (querido!): "somos frágeis". A fragilidade, antes da inteligência, deveria ser a premissa para ser humano. Ao mesmo tempo em que somos uma potência, mesmo um indivíduo sozinho pode ser uma, somos realmente delicados. Uma doença simples, uma picada de inseto, um alimento mal cuidado, um tombo, um sentimento como o ódio que vira amargura ou o amor que se transforma em sofrimento, uma crítica destrutiva, uma palavra mal colocada, tudo isso pode nos afetar profunda e mortalmente.
Depois dessa conversa, eu que me sentia tão no caminho que eu queria e com alguém que estava a fim de caminhar no mesmo passo, no mesmo ritmo, me senti novamente em um solo, um solo não ensaiado. Voltei a ser uma andarilha, não sem destino e não errante. Que seja um lindo solo, então... Uma dança contemporânea bem dançada.
Quantas vezes a arte não refletiu sobre esta nossa fragilidade, sobre esta humanidade que pode se esvair a qualquer momento? Pinceladas que se sobrepõem como que apagando momentos por meio de gestos; linhas finas sutis difíceis de se enxergar; coreografias quase impossíveis de se sustentar o movimento; cores de uma luminosidade e suavidade tão grandes que nos cegam o olhar...
Há obras que traduzem uma fragilidade de maneira única. Seguem aqui algumas, talvez metáforas para o desabar interior destes artistas.
Ah, e venho pensando que só dá pra confiar em si, cada confiando em si mesmo, nas suas crenças, nas suas angústias, nos seus desejos...

O fotógrafo Gustavo Lacerda desenvolveu esta série de retratos maravilhosos no qual pretendeu registrar a natureza frágil e delicada das pessoas albinas. Projeto premiadíssimo, ele diz que sempre se interessou pelo assunto. Entrar no site dele e ver todos os retratos é um exercício de aguçamento da sensibilidade e uma forma de revisar nossos conceitos sobre o belo.
http://www.gustavolacerda.com.br/


Trabalho da citada no texto, Tatiana Blass. Este pertence à série "Cão Cego", mas entrando no site da artista ´´possível conhecer muitos trabalhos onde a efemeridade, a inconstância e brevidade são atributos presentes. A considero das melhores artistas do mundo na atualidade, gosto muito desta poética.
http://www.tatianablass.com.br/

É possível afirmar que Tatiana Blass é herdeira de Mira Schendel (1919 - 1988), a artista suíça radicada no Brasil. Ela explorava com assiduidade folhas de papel com textura frágil, as possibilidade dos traços a partir da pressão exercida pela mão, o gestual e a sensação era a de algo por vir, por completar: signos, linhas, formas...Neste trabalho sem título de 1964 é a imprecisão deste quadrado sobre este branco que não é tão branco assim que demonstram certa precariedade...

Sidney Amaral é dos artistas que mais admiro, pelo domínio técnico e pelas ideias fantásticas. Neste série de autorretratos ele se representa em muitas situações inusitadas. Aqui, ele desistiu de lutar, como que vencido pela pureza do vestido de noiva. O que será que ele quis dizer? Fico muito curiosa em relação a este trabalho. 
Aqui dois trabalhos do inglês Andy Goldsworth, um dos grandes nomes da Land Art, esta arte feita na natureza e com coisas que se referem à ela. Gosto demais da poesia e da fragilidade que existem em suas obras.

Para finalizar este post, segue aqui este lindo trabalho de Brígida Baltar "A coleta da neblina", performance na qual ele tenta colher essa atmosfera feérica. 
Trabalho da artista Larissa Glebova, cadeiras em miniatura com almofadas  contendo desenhos bordados em fios de ouro. Cada uma das almofadas representa um dos nossos órgãos vitais. Ela tem optado por linhas delicadas, brancos profundos e sentimentos escancarados. Num primeiro olhar muito delicados e sutis, num segundo olhar sentimentos aflorados, acalorados, perturbados. 

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